Ruptura, subversão ou blasfêmia? Cerimônia de abertura dos Jogos de Paris continua dando o que falar
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A original cerimônia de abertura dos Jogos de Paris 2024, que chocou religiosos e conservadores em todo o mundo, continua dando o que falar. As revistas semanais franceses Nouvel Obs e Le Point, que chegaram às bancas na quinta-feira (1°), trazem análises sobre o impacto do espetáculo, realizado no rio Sena.
A Nouvel Obs lembra as cenas mais comentadas e criticadas da cerimônia de abertura, como a representação da rainha Maria Antonieta decapitada cantando um hino revolucionário, a apresentação da cantora Aya Nakamura dançando com a Guarda Republicana francesa; ou a reconstituição do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci, com drag queens. Outra versão da cena considerada uma "blasfêmia" por muitos críticos, aponta que o quadro reproduzido seria “A Festa dos Deuses”, de Jan van Bijlert.
Entrevistado pela Nouvel Obs, o historiador francês Georges Vigarello, especialista em representações do corpo e práticas esportivas da Universidade Paris V, ficou entusiasmado com o “espetáculo criativo” que viu, apesar da chuva e das críticas. Para ele, a cerimônia de abertura marca uma ruptura fundamental.
A transferência do local do evento, de um estádio fechado para o rio Sena, não foi a única mudança significativa. O espetáculo revolucionou a tradição de desfiles rígidos e previsíveis.
"O esporte é uma festa"
Há uma semana em Paris, “o esporte era uma festa”, o “discurso moral de superação” ligado à prática esportiva, deu lugar a um “discurso de convivência”, aponta o historiador. Resumindo, o desfile transformou a cultura do evento que era a de disciplina para a do prazer.
Georges Vigarello rejeita as críticas feitas ao espetáculo imaginado pelo diretor artístico Thomas Jolly. O historiador afirma que a grandeza da cerimônia foi mostrar que, ao contrário do que defende a extrema direita do partido Reunião Nacional, “a tradição francesa é uma tradição aberta”.
Já a revista Le Point publicou opiniões contra e a favor da cerimônia de abertura dos Jogos de Paris 2024. O ensaísta francês Ferghane Azihari sustenta que “a qualidade de uma obra de arte não depende de sua capacidade de subversão”.
Ele escreve que viu “uma concepção triste de arte e cultura”, que “em nome da mestiçagem e da diversidade” zomba do classicismo. Apontando uma contradição, ele ressalta que o fato da cerimônia ter realçado os principais monumentos parisienses é uma prova de que “a arte reacionária, tão denegrida, é a mais inclusiva e universal”.
Opinião oposta tem Simon Kuper. Nas páginas do Le Point, o escritor britânico radicado em Paris garante que “não é mais o único parisiense otimista”. Segundo ele, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no rio Sena "surpreendeu o mundo, oferecendo uma visão de como será a França em 2030".
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