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"Ele sempre soube que nasceu músico", diz francês autor de romance biográfico sobre Hermeto Pascoal

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Um romance biográfico para contar a história de um dos maiores instrumentistas do Brasil. “Hermeto Campeão, os pensamentos de Pascoal” em tradução livre, foi publicado na França pela editora L’Harmattan. O livro escrito por Pierre Sicsic, um engenheiro francês apaixonado pelo Brasil, explora com riqueza de detalhes a cultura, as tradições e o folclore brasileiros, tendo como pano de fundo a vida de Hermeto Pascoal.

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

Da infância em Lagoa da Canoa, no interior de Alagoas, até se tornar um ícone da música brasileira. A trajetória de Hermeto Pascoal na música começa muito cedo, quando ele “se comunicava e compunha com os animais, com a natureza, os sapos, as formigas, as cigarras”. Ele era um garoto especial, que ao mesmo tempo que tinha dificuldades na escola por não conseguir ler, tinha um ouvido afinado. “Ele sempre soube que nasceu músico. Talvez por causa do albinismo, já que ele nasceu no campo, mas não podia acompanhar o pai na roça por causa do sol, ele ficava na sombra, perto da água, perto das árvores, perto dos pássaros, e ele aprendeu a música com isso tudo”, contextualiza o autor.

Filho do seu Pascoal, que tocava acordeão nas festas do vilarejo, Hermeto e o irmão, Zé Neto, roubaram o instrumento do pai para aprender sozinhos. Autodidata, primeiro no acordeão, depois no pandeiro e no piano, todos logo perceberiam que o lugar dele era no palco. Os dois irmãos fugiram ainda adolescentes para o Recife, onde arrumaram o primeiro emprego na rádio. “Os músicos com quem ele trabalhava viram que Hermeto era muito mais do que um simples tocador de sanfona. Ele toca forró, ele toca a música popular, foi assim que ele começou. Mas todo mundo viu que ele ia muito mais longe”, completa o autor.

No livro, dois personagens, Antoine e Chiara, levam o leitor a descobrir a vida de Hermeto Pascoal, nascido em 1936, e que ainda hoje, aos 88 anos, enche salas de concerto pelo mundo. Mas por que um romance biográfico e não uma biografia? “A escolha do romance veio depois de uma conversa com Cacau (Cláudio Cacau de Queiroz), músico que tocou com o Hermeto e que fez o prefácio do livro, ele me falou que realmente o Hermeto merecia um romance, porque a vida dele é um romance”, avalia.

Os detalhes do albinismo e como Hermeto Pascoal sempre enfrentou com determinação o preconceito. O amor de uma vida inteira pela esposa Ilza. A amizade com Sivuca. O cabelo comprido e a barba longa, que Hermeto Pascoal adquiriu nos Estados Unidos, entre os anos 1970-1972, onde tocou com grandes nomes da música americana. Tudo isso está exposto ao longo de mais de 300 páginas.

Ficção e realidade

Pierre Sicsic afirma que os dois personagens principais são frutos de ficção, ainda que Antoine “seja um pouco autobiográfico”. “Tem coisas da minha vida e coisas que imaginei e que inventei para a vida do Antoine”, completa o autor, que incluiu cenas passadas na França. “Eu quis mostrar a diferença entre dois caminhos: o do Hermeto, que é uma linha reta, pois ele sempre fez o que queria fazer, sem compromisso nenhum, enquanto a trajetória do Antoine é diferente. Ele é um técnico, mas também músico amador, até que as duas trajetórias vão se juntar”, explica.

O personagem Antoine embarca em uma viagem pela América do Sul, passando pela Bolívia, Peru e Equador, em busca do que acreditava ser a música original, autêntica. Mas ele não encontra nada disso antes de chegar ao Brasil, país do qual não sabia nada, antes de entrar de ônibus, chegando do Paraguai. Foi exatamente a sensação de Pierre ao visitar o Brasil pela primeira vez, no fim dos anos 1970. “Eu não sabia nada de samba, nada de futebol ou das imagens populares do Brasil no mundo”, diz. “Não me interessava. Eu descobri o Brasil primeiro no Rio de Janeiro, depois na Bahia, no momento em que havia essa explosão da MPB, da música popular brasileira, com todos os músicos Chico, Caetano, Gil, etc. Então, fiquei apaixonado por essa música e o que eu buscava estava no Brasil”, afirma.

Hermeto Pascoal conheceu o jazz quando chegou ao Recife, cidade portuária do Nordeste onde havia uma base militar americana e os marinheiros costumavam tocar nos bares. “Isso foi talvez a primeira abertura para ele fora da música regional. Ele tocava nas festas populares, lá em Pernambuco, com forró, frevo, maracatu, etc. E é aí que ele saiu desse âmbito para coisas mais abertas, mais exóticas”, comenta o autor.

O autor visitou a região de Lagoa da Canoa, terra natal de Hermeto, onde encontrou com a família do músico, seus primos e primas, que são agricultores. “Era importante para mim fazer essa relação entre a história do Hermeto e a história do país, porque tem a ver com os acontecimentos políticos no Brasil, que têm uma influência na história do Hermeto também”, observa Pierre Sicsic.

Perguntado se Hermeto Pascoal tem o reconhecimento que deveria, Sicsic acredita que não. “Eu acho que ele não tem o reconhecimento que merece, pois ele é muito conhecido dos músicos, tem um público aqui na Europa, talvez mais que no Brasil, mas fica restrito aos amantes da música”, diz. “O objetivo do livro é fazer conhecer mais essa música, que não é fácil na primeira escuta e que pode ser difícil para alguns”, conclui.

O livro, publicado para o público francês, tem um glossário no final com expressões regionais como acarajé, afoxé, atabaque... um mergulho na Bahia, onde o personagem desembarcou para conhecer, primeiro, o carnaval. O próximo passo será traduzir a obra para português. “A primeira coisa que tenho que fazer, depois da publicação em francês, é publicar no Brasil. Vou ter que encontrar uma editora no Brasil e fazer a tradução. Já começamos o trabalho com um amigo em Curitiba, pois esse livro é também para o Brasil”, convida.

O lançamento com sessão de autógrafos em Paris será no sábado (14), às 15h na livraria Aux Quatre Vents. O endereço é 21 rue des Écoles, em Paris.

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Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

Da infância em Lagoa da Canoa, no interior de Alagoas, até se tornar um ícone da música brasileira. A trajetória de Hermeto Pascoal na música começa muito cedo, quando ele “se comunicava e compunha com os animais, com a natureza, os sapos, as formigas, as cigarras”. Ele era um garoto especial, que ao mesmo tempo que tinha dificuldades na escola por não conseguir ler, tinha um ouvido afinado. “Ele sempre soube que nasceu músico. Talvez por causa do albinismo, já que ele nasceu no campo, mas não podia acompanhar o pai na roça por causa do sol, ele ficava na sombra, perto da água, perto das árvores, perto dos pássaros, e ele aprendeu a música com isso tudo”, contextualiza o autor.

Filho do seu Pascoal, que tocava acordeão nas festas do vilarejo, Hermeto e o irmão, Zé Neto, roubaram o instrumento do pai para aprender sozinhos. Autodidata, primeiro no acordeão, depois no pandeiro e no piano, todos logo perceberiam que o lugar dele era no palco. Os dois irmãos fugiram ainda adolescentes para o Recife, onde arrumaram o primeiro emprego na rádio. “Os músicos com quem ele trabalhava viram que Hermeto era muito mais do que um simples tocador de sanfona. Ele toca forró, ele toca a música popular, foi assim que ele começou. Mas todo mundo viu que ele ia muito mais longe”, completa o autor.

No livro, dois personagens, Antoine e Chiara, levam o leitor a descobrir a vida de Hermeto Pascoal, nascido em 1936, e que ainda hoje, aos 88 anos, enche salas de concerto pelo mundo. Mas por que um romance biográfico e não uma biografia? “A escolha do romance veio depois de uma conversa com Cacau (Cláudio Cacau de Queiroz), músico que tocou com o Hermeto e que fez o prefácio do livro, ele me falou que realmente o Hermeto merecia um romance, porque a vida dele é um romance”, avalia.

Os detalhes do albinismo e como Hermeto Pascoal sempre enfrentou com determinação o preconceito. O amor de uma vida inteira pela esposa Ilza. A amizade com Sivuca. O cabelo comprido e a barba longa, que Hermeto Pascoal adquiriu nos Estados Unidos, entre os anos 1970-1972, onde tocou com grandes nomes da música americana. Tudo isso está exposto ao longo de mais de 300 páginas.

Ficção e realidade

Pierre Sicsic afirma que os dois personagens principais são frutos de ficção, ainda que Antoine “seja um pouco autobiográfico”. “Tem coisas da minha vida e coisas que imaginei e que inventei para a vida do Antoine”, completa o autor, que incluiu cenas passadas na França. “Eu quis mostrar a diferença entre dois caminhos: o do Hermeto, que é uma linha reta, pois ele sempre fez o que queria fazer, sem compromisso nenhum, enquanto a trajetória do Antoine é diferente. Ele é um técnico, mas também músico amador, até que as duas trajetórias vão se juntar”, explica.

O personagem Antoine embarca em uma viagem pela América do Sul, passando pela Bolívia, Peru e Equador, em busca do que acreditava ser a música original, autêntica. Mas ele não encontra nada disso antes de chegar ao Brasil, país do qual não sabia nada, antes de entrar de ônibus, chegando do Paraguai. Foi exatamente a sensação de Pierre ao visitar o Brasil pela primeira vez, no fim dos anos 1970. “Eu não sabia nada de samba, nada de futebol ou das imagens populares do Brasil no mundo”, diz. “Não me interessava. Eu descobri o Brasil primeiro no Rio de Janeiro, depois na Bahia, no momento em que havia essa explosão da MPB, da música popular brasileira, com todos os músicos Chico, Caetano, Gil, etc. Então, fiquei apaixonado por essa música e o que eu buscava estava no Brasil”, afirma.

Hermeto Pascoal conheceu o jazz quando chegou ao Recife, cidade portuária do Nordeste onde havia uma base militar americana e os marinheiros costumavam tocar nos bares. “Isso foi talvez a primeira abertura para ele fora da música regional. Ele tocava nas festas populares, lá em Pernambuco, com forró, frevo, maracatu, etc. E é aí que ele saiu desse âmbito para coisas mais abertas, mais exóticas”, comenta o autor.

O autor visitou a região de Lagoa da Canoa, terra natal de Hermeto, onde encontrou com a família do músico, seus primos e primas, que são agricultores. “Era importante para mim fazer essa relação entre a história do Hermeto e a história do país, porque tem a ver com os acontecimentos políticos no Brasil, que têm uma influência na história do Hermeto também”, observa Pierre Sicsic.

Perguntado se Hermeto Pascoal tem o reconhecimento que deveria, Sicsic acredita que não. “Eu acho que ele não tem o reconhecimento que merece, pois ele é muito conhecido dos músicos, tem um público aqui na Europa, talvez mais que no Brasil, mas fica restrito aos amantes da música”, diz. “O objetivo do livro é fazer conhecer mais essa música, que não é fácil na primeira escuta e que pode ser difícil para alguns”, conclui.

O livro, publicado para o público francês, tem um glossário no final com expressões regionais como acarajé, afoxé, atabaque... um mergulho na Bahia, onde o personagem desembarcou para conhecer, primeiro, o carnaval. O próximo passo será traduzir a obra para português. “A primeira coisa que tenho que fazer, depois da publicação em francês, é publicar no Brasil. Vou ter que encontrar uma editora no Brasil e fazer a tradução. Já começamos o trabalho com um amigo em Curitiba, pois esse livro é também para o Brasil”, convida.

O lançamento com sessão de autógrafos em Paris será no sábado (14), às 15h na livraria Aux Quatre Vents. O endereço é 21 rue des Écoles, em Paris.

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