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Em livro sobre a Amazônia, geógrafo francês derruba mitos e discute caminhos viáveis
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Grande observador do mundo, de suas movimentações políticas e ambientais, o geógrafo Hervé Théry começou a pesquisar a Amazônia há exatos 50 anos. Em seu novo livro, “Amazone, um monde en partage”, lançado na França, ele traça um panorama da região e discute desafios de sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta.
Pesquisador emérito do Centro Nacional de Pesquisas Cientificas (CNRS), da França, e professor do Departamento de Geografia da USP, Hervé Théry tem sido uma testemunha das mudanças na Amazônia desde que fez sua primeira viagem de pesquisa ao Brasil, em fevereiro de 1974.
Uma tradução literal do livro que Théry está lançando seria “Amazônia, um mundo compartilhado”. Ele explica: “Ela foi inicialmente compartilhada no Tratado de Tordesilhas entre espanhóis e portugueses, isso no início da chegada dos europeus. Mas ao chegarem, os europeus tiveram que compartilhar com quem estava lá, com os autóctones, os indígenas. Depois teve de ser compartilhada entre os países que se tornaram independentes e cada um ficou com um pedaço da Amazônia. ” Ele cita ainda a expressão francesa “recevoir en partage”, que significa “receber de herança”. “Ou seja, trata-se de uma herança que a humanidade recebeu e que deveria ser bem cuidada”, explica.
O livro expõe uma visão abrangente e reflexiva sobre a Amazônia, desde aspectos geográficos e históricos, até chegar ao que ele chama de “xis da questão”, que são os desafios de políticas públicas para um planejamento sustentável. Para ele, proteger por proteger não adianta, é preciso dar condições de vida aos habitantes do mundo rural, seja os que vão desmatar ou não, colocando em prática culturas mais eficientes e menos destrutivas, por exemplo.
Preservar e desenvolver
Nos anos 1990 e 2000, Théry participou Comitê Científico do PPG7, um programa-piloto do G7 para a Amazônia, quando presenciou a tensão entre os que defendiam a preservação, de um lado, e do outro, o desenvolvimento. “Mas a Amazônia é tão imensa. Eu sou geógrafo, sensível às questões espaciais. Tem espaço de sobra para todo mundo. Se for decidido que metade da Amazônia é intocável e que com 50% dá para fazer agronegócio, pequena agricultura, pecuária, tem espaço para isso. Só que as duas partes são extremistas e não queriam. É preciso achar políticas que sejam capazes de preservar e dar, ao mesmo tempo, possibilidades para os habitantes de lá ou para gente que queira ir viver lá”.
“Às vezes eu tenho discussões bem fortes com os habitantes de lá. ‘Quem são vocês, europeus, para dizer para não desmatar? Vocês desmataram tudo.’ Eu digo sim, é verdade. Principalmente no século XIII. Só que desde então temos uma agricultura estável. Então, em francês não se fala de sustentável, se fala durável. De uma coisa que dura oito séculos”. O mais importante, ele ressalta, é “dar possibilidade de as pessoas viverem bem e preservar o estado da floresta. Porque dependem disso. ”
Pulmão do mundo
Théry contesta a expressão de que a Amazônia é o pulmão do mundo. “O pulmão absorve o oxigênio e produz CO2. Exatamente o contrário do que a gente quer”, explica. “Já a floresta faz o mesmo, mas também transforma o CO2 em oxigênio pela fotossíntese. Mas, no momento, o balanço da Amazônia, que absorvia carbono e devolvia oxigênio, está começando a fraquejar por conta do desmatamento”.
Ele também refuta outra ideia pré-concebida da “floresta virgem, onde não tem ninguém a não ser poucos índios”. São mais de 20 milhões de habitantes na Amazônia brasileira e mais de 30 milhões na região toda. “Ou seja, é uma região já ocupada”, diz, citando a geógrafa brasileira Bertha Becker, que usava o termo “selva urbanizada”.
Centro do continente
Para escrever o livro, Théry teve de pesquisar sobre a Amazônia de outros países e isso o levou a constatar a comunicação ativa entre todas as áreas.
“A Amazônia, hoje uma região, não é mais o fundo de quintal dos nove países, mas um lugar topograficamente no centro do continente”, diz. “Em termos de conexão também. Você pode pegar ônibus em São Paulo e ir para Lima ou para Caracas. Você já tem conexões fluviais rodoviárias que recolocam a Amazônia no centro do continente.
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Grande observador do mundo, de suas movimentações políticas e ambientais, o geógrafo Hervé Théry começou a pesquisar a Amazônia há exatos 50 anos. Em seu novo livro, “Amazone, um monde en partage”, lançado na França, ele traça um panorama da região e discute desafios de sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta.
Pesquisador emérito do Centro Nacional de Pesquisas Cientificas (CNRS), da França, e professor do Departamento de Geografia da USP, Hervé Théry tem sido uma testemunha das mudanças na Amazônia desde que fez sua primeira viagem de pesquisa ao Brasil, em fevereiro de 1974.
Uma tradução literal do livro que Théry está lançando seria “Amazônia, um mundo compartilhado”. Ele explica: “Ela foi inicialmente compartilhada no Tratado de Tordesilhas entre espanhóis e portugueses, isso no início da chegada dos europeus. Mas ao chegarem, os europeus tiveram que compartilhar com quem estava lá, com os autóctones, os indígenas. Depois teve de ser compartilhada entre os países que se tornaram independentes e cada um ficou com um pedaço da Amazônia. ” Ele cita ainda a expressão francesa “recevoir en partage”, que significa “receber de herança”. “Ou seja, trata-se de uma herança que a humanidade recebeu e que deveria ser bem cuidada”, explica.
O livro expõe uma visão abrangente e reflexiva sobre a Amazônia, desde aspectos geográficos e históricos, até chegar ao que ele chama de “xis da questão”, que são os desafios de políticas públicas para um planejamento sustentável. Para ele, proteger por proteger não adianta, é preciso dar condições de vida aos habitantes do mundo rural, seja os que vão desmatar ou não, colocando em prática culturas mais eficientes e menos destrutivas, por exemplo.
Preservar e desenvolver
Nos anos 1990 e 2000, Théry participou Comitê Científico do PPG7, um programa-piloto do G7 para a Amazônia, quando presenciou a tensão entre os que defendiam a preservação, de um lado, e do outro, o desenvolvimento. “Mas a Amazônia é tão imensa. Eu sou geógrafo, sensível às questões espaciais. Tem espaço de sobra para todo mundo. Se for decidido que metade da Amazônia é intocável e que com 50% dá para fazer agronegócio, pequena agricultura, pecuária, tem espaço para isso. Só que as duas partes são extremistas e não queriam. É preciso achar políticas que sejam capazes de preservar e dar, ao mesmo tempo, possibilidades para os habitantes de lá ou para gente que queira ir viver lá”.
“Às vezes eu tenho discussões bem fortes com os habitantes de lá. ‘Quem são vocês, europeus, para dizer para não desmatar? Vocês desmataram tudo.’ Eu digo sim, é verdade. Principalmente no século XIII. Só que desde então temos uma agricultura estável. Então, em francês não se fala de sustentável, se fala durável. De uma coisa que dura oito séculos”. O mais importante, ele ressalta, é “dar possibilidade de as pessoas viverem bem e preservar o estado da floresta. Porque dependem disso. ”
Pulmão do mundo
Théry contesta a expressão de que a Amazônia é o pulmão do mundo. “O pulmão absorve o oxigênio e produz CO2. Exatamente o contrário do que a gente quer”, explica. “Já a floresta faz o mesmo, mas também transforma o CO2 em oxigênio pela fotossíntese. Mas, no momento, o balanço da Amazônia, que absorvia carbono e devolvia oxigênio, está começando a fraquejar por conta do desmatamento”.
Ele também refuta outra ideia pré-concebida da “floresta virgem, onde não tem ninguém a não ser poucos índios”. São mais de 20 milhões de habitantes na Amazônia brasileira e mais de 30 milhões na região toda. “Ou seja, é uma região já ocupada”, diz, citando a geógrafa brasileira Bertha Becker, que usava o termo “selva urbanizada”.
Centro do continente
Para escrever o livro, Théry teve de pesquisar sobre a Amazônia de outros países e isso o levou a constatar a comunicação ativa entre todas as áreas.
“A Amazônia, hoje uma região, não é mais o fundo de quintal dos nove países, mas um lugar topograficamente no centro do continente”, diz. “Em termos de conexão também. Você pode pegar ônibus em São Paulo e ir para Lima ou para Caracas. Você já tem conexões fluviais rodoviárias que recolocam a Amazônia no centro do continente.
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